quarta-feira, 2 de setembro de 2009

SOBRE A CHUVA DE ONTEM


Ontem choveu em nossa terra. O cheiro livre do campo molhado, das árvores secas como que assustadas com tamanha dádiva de formosura e alívio, como um desfile de reivindicação pela vida. A chuva nos dias de seca é terapêutica e tem o dom de nos remeter ao passado, fazendo-nos trilhar por lembranças longínquas da infância, de outras chuvas, outro tempo e de quanta coisa, boa e ruim, já passou...
Ontem, quando ainda tinha os últimos respingos da chuva, alguém leu no templo uma palavra que, como a chuva, tem o poder de trazer à memória coisas que ainda não foram embora. A palavra mencionada lembra dias difíceis e a essência dela rememora o que aconteceu. “Se não fora o Senhor”... É como pensar na chuva de ontem e nas que vieram em todos os anos da infância, de lá até aqui. Se não fora a chuva na primavera tal, ou no verão de tal ano, se não tivesse chovido no outono daquela época, se não fosse a chuva no inverno de antes... É aí que as coisas se parecem. Uma é figura da outra. “Se não fora o Senhor” quando os homens se levantaram contra nós, “se não fora o Senhor” as águas teriam transbordado e a corrente levado a nossa alma, as águas impetuosas teriam prevalecido sobre nós...
Bendita foi a chuva de todos esses anos, bendita a secura que ontem, no fim da tarde, se rendeu a ela quando parecia que não mais viria. Eu andava pela rua vendo o morrer do dia. Ela veio, surpreendente, e eu corri, as crianças correram e nós, benditamente, nos molhamos e, a terra, adoravelmente, se molhou. A figura se repete. “Bendito seja o Senhor” que em todo esse tempo não nos deu por presa aos dentes dos caçadores de almas. Como na surpresa da terra com a chuva, a nossa alma escapou como um pássaro do laço do passarinheiro. O laço se quebrou e nossa alma voou livre. Foi como no fim da tarde de ontem. Se não fosse aquela chuva... Porém, ela veio! Deus é assim ao derramar sua palavra e libertação sobre os povos ou quando se refere a apenas uma alma solitária, é que todos, alma e povos, sofremos do pavor e da secura. E a palavra de Deus é como a chuva na terra seca de agosto. É surpreendente, curadora, revigorante.
Me encontro como o rei do texto referido. Ele diz: “Ah, se não fora o Senhor”... Comparo sua palavra com a chuva de ontem antes do anoitecer e todas as dos anos anteriores. O que teria acontecido se elas não tivessem vindo? A mesma coisa que teria acontecido com a minha alma se Deus não tivesse enviado sua libertação e palavra. O próprio texto do Rei explica: teríamos sido tragados pelos dentes do caçador, a correnteza teria consumido as nossas almas... Porém, choveu. Choveu pelo tempo e choveu ainda ontem e choverá pelos dias vindouros, chegará mesmo o tempo em que choverá torrencialmente. Tudo tem seu tempo. A palavra de Deus e sua libertação também.

Paz e a gente se fala pelas chuvas que ainda virão...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 26 de Agosto de 2009.

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