quinta-feira, 17 de setembro de 2009

VINTE QUILÔMETROS






Foi na conferência anual da Missão. Palavras simples, mas de imensurável valor, encharcaram nossas almas. Coisas elementares e, por isso mesmo, imprescindíveis. Verdades assim: caráter, poder, aprendizado, missões nos cinco continentes e amor. De todos os lados e para todas as direções, amor, o caminho sobremodo excelente.
Eu vinha pela estrada. Havia deixado os amigos preletores no aeroporto. Amigos da adolescência. Ah, adolescência!... Quão doce é a condenação de não poder livrar-me dela. E foi na estrada, pensando nas palavras, que meu espírito foi encharcando-se de gratidão. Pensei na minha cidade, na igreja, no Deus que sempre foi a razão de tudo isso. Então, falei sozinho, por mais de vinte quilômetros, na solidão do carro a correr e da chuva fina que refrescava a quentura do começo de setembro. Falei como que uma língua desconhecida, que não pudesse ser decifrada, mas que eu sabia bem: era gratidão e esperança! Então, a chuva cessou e o caminho acabou. Colorado do Oeste chegou para o fim da minha curta viagem.
Porém, ficou o som da estrada. Uma palavra viva, vinda de um idioma que nem parecia existir, como se cada sílaba dançasse junto com os pingos da chuva. A gratidão era por saber que minha alma se prostrava diante do Rei e isso a livrou de prostrar-se diante de outros homens, de suas falcatruas e prostituições. E ficou a esperança. O que fazer com tanta beleza? Lembrei-me do ipê cor das rosas no mês de agosto: como pode haver tanta beleza em meio a tanta dor? É aí que a esperança achada nas palavras do começo desse texto lança seus tentáculos de fé e amor, visto que são gêmeos. Onde há um o outro está. Se as palavras partilhadas naquela conferência foram flechas atiradas pela esperança, então os meus vinte quilômetros estão certos. O que fazer com tudo isso?
Tem uma igreja. Igreja são pessoas. Então, tem pessoas que se acham feridas por essas palavras. E a esperanças são elas. Pessoas fora dos templos, como caçadores, para caçar os aflitos, os perdidos, os que estão cegos e chafurdados na cegueira. E as palavras desses caçadores são mesmo simples: caráter, amor, aprender sempre, missões...
E a adolescência que voltou aqui por poucos dias, se foi de vez... Ficou a gratidão e o amor, parceiros da esperança, esses que não são vulneráveis ao tempo. São sim, cúmplices de palavras que podem mudar, ganhar o coração de pessoas de dentro e de fora. Até porque também nossa adultice está indo embora, vulnerável que é ao tempo. Então, o fim é, coração e pés, do lado de fora, embalados pela esperança.


Paz e a gente se encontra pelos quilômetros de uma estrada qualquer...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 17 de Setembro de 2009.

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