quinta-feira, 17 de setembro de 2009

COM O OLHAR DE UMA CRIANÇA







Bem que Jesus disse que dos pequenos é o reino dos céus. Melhor ainda, disse que se não recebermos o reino como um pequeno, jamais faremos parte dele. Isso é complexo e pode ser mais abrangente do que parece. Uns dirão que Cristo usou a criança para falar da pureza. E pode ser uma boa verdade. Bem sabemos que pureza é palavra custosa aos adultos. Pureza é falta de malícia, de planos sujos, ciúmes, e por aí vai. É a presença de outras coisas, as que polarizam essas citadas. Por si só, essa palavra já é complexa. Outros dirão, e bem dirão, que a criança é a figura do imerecimento. Ela não espera merecer para receber, apenas confia que é amada. Aí pode estar um dos maiores segredos do reino dos céus.
Pois foi assim. Era noite e eu vinha da lanchonete com minha pequena. Ela tem sete anos. Ao passarmos por uma esquina escura, alguns outros pequenos com outros, não tão pequenos, tentaram esconder-se. Fumavam e drogavam-se. Perguntei à minha filha se ela sabia o que estava acontecendo. Ela disse que sim e falou do que viu. Disse que aquilo era triste e a amedrontava. Eram só crianças. Em casa, um outro dia, quando já era domingo e eu teria que preletar na igreja, ela quis saber: “você vai falar do que vimos”? Eu disse que não, era só um grupo de crianças. E ela continuou: “então, vai escrever sobre isso”? E eu perguntei por que. A resposta foi simples: “São meninos, e falar do que vimos, pode ajudar”.
Foi uma visão simples. A pequena que estava comigo nunca questionou se merecia ser amada ou partilhar de uma igreja que está aprendendo a amar. Recebe isso e, simplesmente, aceita. Talvez por isso tenha sentido tão naturalmente o que sentiu pelos meninos na esquina escura. A visão simples foi dela, porém, a lição abrangente disso tudo, é para nós. Pense nisso em duas direções: a primeira é para os que estão limpos. Não nos dói a sujeira deles? A segunda é para os que estão perdidos, esses que estão nas esquinas, aflitos e sem claridade alguma, escondidos e escondendo-se. Receber o reino de Deus é como se tornar criança outra vez. Não há merecimento nisso, simplesmente ao Pai agradou fazê-lo. É por isso que meretrizes e pecadores se adiantam a muitos religiosos e desfrutam o amor de Deus, deixando para trás o lodo visguento de vidas chafurdadas pelo rancor, vícios, pela escuridão da ausência de Deus. É simples assim e é abrangente assim.
Se falar disso ajuda, então dito está. É preciso que aprendamos a ver o reino dos céus pelos olhos de uma criança. O que às vezes não pensamos é que meninos e meninas numa esquina qualquer, sorrateiros e desconfiados, envenenando seus corpos e suas almas, façam parte desse reino que dizemos amar. Ao menos, aos olhos da minha pequena, eles não estão excluídos.

Paz e a gente se encontra pelos olhos de uma criança qualquer....

Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 17 de Setembro de 2009.

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