
Uma mulher,
Certamente quimera,
Porém,
É jovem e bela, cabelos tomados de repente pelo vento,
Longos,
Fugazes como sua pretensão.
O que faz ali?
Um tipo impensado de sedução...
E solidão!
É doído e solitário seu andar por entre as rochas,
Devagar,
Não tem outra missão que a de seduzir
Meu pensamento,
Ventar sua solitude para meu encantamento...
Está só ao pé da muralha,
Parce paredes de um convento,
Muros de séculos idos, aproximados nessa mulher,
Nao é freira,
É mulher de paixões, íntima do meu paradoxo, ela...
Do lado de fora do muro, anda,
Exibe-se,
Suplica, como a partilhar ausências...
Sabe que só meus olhos a fitam, posta ali para um só olhar,
E eu queria flertar...
Veste uma blusa escura, meio verde e meio azul,
Ela, indecifrável...
A saia, porém, é branca,
Tingida só de poeira das pedras e do muro,
Do campo...
É bela,
Caçadora,
Expõe-se, avassaladora,
Mortal a mim, pois sou o único que a vê – Presa única!
É inexistente,
Existe somente na imagem que fiz,
Criador, presa da criatura, sucumbido na beleza e dor de lá...
Dito fica,
Sua solidão seduziu minha imaginação,
E, seduzido, sofri...
Ah, o sofrimento!...
Latente nos movimentos dela,
Envolventes na beleza dela,
Peçonha adocicada nos cabelos dela,
A machucar e embelezar a solidão dela...
Ela!
Ela sofre?
Isso tudo, devagar,
Como ela se move na solitude que a define.
Espera alguém?
Ama alguém?
É como o sol caindo para trás do muro numa tarde sem cor,
Nuvem e vento – vagarosos – para enfeitar os cabelos dela...
Sua pele é clara, porém marcada pelo sol incolor,
Leva uma cesta,
Talvez para derramar pétalas de lírios,
Marcar um caminho...
Ela sabe que só minha quimera a vê...
Se assim é, por quê sua solidão me traz contusões?
Freira não é, princesa também não,
Camponesa talvez...
É bela, vagando do lado de fora da muralha,
Não me vê,
Sabe-se vista,
Por entre as rochas
Destila solidão e beleza,
É ela...
Devagar – Não se pode esquecer!
Eliel Eugênio de Morais
Pastor